Home / Destaque / Comunidade, família e desenvolvimento nos 60 anos de Valtra no Brasil

Comunidade, família e desenvolvimento nos 60 anos de Valtra no Brasil

 

*por Ricardo Huhtala

 

O Brasil é internacionalmente conhecido por ser um ambiente muito peculiar para os negócios. Chegar ao País e cumprir todas as exigências e regulações para fabricar um produto ou prestar um serviço – tudo isso é desafiador, não importa o tamanho do negócio em questão. A volatilidade da economia brasileira é outro obstáculo que poucos conseguem superar. Estima-se que 60% das empresas de todos os portes encerram as atividades no Brasil antes de completar cinco anos de existência, de acordo com números do IBGE.

 

Essas e outras dificuldades me puseram a pensar sobre o que sustenta uma multinacional, funcionando durante 60 anos por aqui. É o caso da Valtra. Pioneira na fabricação de máquinas agrícolas no Brasil, a empresa, então uma estatal do governo da Finlândia, chegou no Brasil por incentivo do governo Juscelino Kubistchek, em 1960. Eram outros tempos. Havia ventos de esperança e buscava-se acelerar a industrialização local, algo que, até então, tinha demorado a acontecer.

 

Para dar início às atividades da empresa, os executivos finlandeses procuraram no Brasil alguém capaz de se comunicar tanto em finlandês, quanto em português. Se isso já é difícil hoje em dia, imagine em 1960. Encontraram uma jovem de uma família finlandesa residente no interior do Rio de Janeiro. Foi a primeira funcionária da Valtra no Brasil. Esse primeiro grupo de executivos, com o auxílio dessa moça, puseram de pé uma grande fábrica em um terreno da cidade de Mogi das Cruzes, em São Paulo.

 

O município tinha, e ainda tem, uma forte tradição japonesa, graças aos imigrantes que vieram da nação asiática para trabalhar nas lavouras da região. Naturalmente, a colônia japonesa de Mogi das Cruzes se fez presente, desde a construção da fábrica, projetada por arquiteto japonês, até o desenvolvimento da marca ao longo dos anos. Com isso, tínhamos um grande grupo de finlandeses, outro de japoneses e um terceiro, de brasileiros, naturalmente. Portanto, as bases da Valtra no Brasil se deram sobre um forte senso de comunidade, trazido por esses grupos étnicos tão distintos, que fizeram a empresa ser o que é.

 

Graças a essa gente e a essa cultura, a Valtra resistiu a inúmeras crises políticas e econômicas, se manteve forte e cresceu. Cresceu ao ponto de ser uma empresa-chave para o desenvolvimento da agricultura brasileira, personalizando projetos de máquinas para o melhor rendimento dos cultivos em solo local. Em 60 anos, a marca redefiniu o mercado de máquinas agrícolas diversas vezes, como quando criou o primeiro motor de quatro cilindros para tratores do Brasil, ou quando desenvolveu o primeiro projeto de um trator estreito, próprio para lavouras de café, que passaram por uma grave crise de pragas no início dos anos 70.

 

Foi a Valtra quem criou o primeiro trator turbo alimentado do País. Que introduziu ao mercado nacional a opção de se trabalhar no campo em uma cabine com ar-condicionado. Foi a primeira montadora no Brasil a homologar seus motores para trabalhar com biodiesel, e também a primeira a trazer para esta Nação tratores com câmbio CVT, o melhor disponível no mercado. Hoje, exporta conhecimento e tecnologia, com a plantadeira dobrável Momentum, desenvolvida 100% no Brasil e comercializada mundialmente. Tudo isso, sempre impulsionada pelas mais diferentes gentes deste lugar.

 

Mais do que o pioneirismo e os produtos inovadores, o senso de comunidade que deu origem ao sucesso de 60 anos da Valtra no Brasil criou afeto, criou famílias, criou uma história sem igual. Aquela jovem que foi a primeira funcionária da empresa no Brasil permaneceu na empresa por mais de 40 anos. Se dedicou, conheceu seu grande amor – um brasileiro –, teve filhos. Se aposentou no único lugar em que trabalhou. Como era de costume na época, trabalhou com irmãos, cunhados, primos e até com os filhos.

 

Quando seu filho mais velho resolveu ingressar no mercado de trabalho, o ajudou, sim, a conseguir uma vaga de estágio na Valtra, sem nenhuma regalia. Seu filho aprendeu ao longo dos anos, desde o chão de fábrica, até às experiências internacionais, o valor do trabalho de toda a gente que fez da Valtra o que ela é hoje – um lugar que congrega tradição e inovação, em prol do desenvolvimento do principal pilar econômico do Brasil, a agricultura.

 

O filho daquela jovem contratada em 1960 passou anos longe, retornou, e hoje dirige as operações do lugar que permitiu que ele próprio existisse. Sim, o filho dela sou eu, e o que norteia as minhas ações dentro da empresa que me apresentou a vida da maneira que conheço, é a busca por aquele mesmo sentimento de pertencimento, por aquele senso de comunidade, com uma conexão emocional. Essa busca existe, pois acredito que, mais do que a cor amarela das nossas máquinas, esses valores representaram e seguirão representando a identidade da Valtra neste País.

 

 

*Ricardo Huhtala é diretor de operações AGCO
(Empresa detentora da marca Valtra)

Check Also

Fendt leva solução de plantio para evento na maior região produtora de grãos do Brasil

Show Safra, feira que ocorre em Lucas do Rio Verde / MT, é focada em …

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.